sexta-feira, 26 de novembro de 2010

SE A MIDIA FOSSE REALMENTE LIVRE...

Por Arlindo Montenegro

Nas páginas do site Wikileaks, encontramos algumas justificativas plausíveis, para o vazamento de documentos secretos. Entre outros argumentos de peso, as informações expostas permitem facilitar uma linha de investigação, facilitando o trabalho mais do que se fosse começar pelo nada: "O título, autor ou números de página de um documento importante, pode acelerar uma investigação, mesmo que o conteúdo não tenha sido confirmado."

A informação é disponibilizada para mobilizar "a mídia, a sociedade civil ou investigações oficiais." Quem poderia ser contra? Depende do país em evidência. Lá nos EUA, lembra o texto do Wikileaks: "Em sua histórica decisão sobre os Papéis do Pentágono, a Suprema Corte dos EUA determinou que "só uma imprensa com liberdade irrestrita, pode efetivamente expor as fraudes no governo."

Quem não estaria de acordo? É claro que tal iniciativa "é uma força motivadora para os governos e corporações agirem com justiça.Se agir de forma justa é mais fácil do que agir de forma injusta, a maioria das ações será justa." É mais fácil sim, num país onde o valor das liberdades é significativo e sua defesa, um dos traços culturais mais fortes e presentes. Funcionaria no Brasil dos mensalões, das cpis, das obras super faturadas, dos caixa 2, do assassinato para silenciar testemunhas...?

Aí está a diferença entre o estado de direito democrático, o estado onde a ética e a honra das pessoas é valorizada e o estado acima do direito, o estado que distribui propinas e vende privilégios para enriquecer um grupo de burocratas e predadores. As pessoas se queixam, a justiça acaba por não aceitar as provas contra os homens acima das leis.

Como diz o texto do Wikileaks: " isso gera um viés de percepção, voltado para a imensidão do invisível. Voltado para as conseqüências não intencionais de omitir e voltado para todos aqueles que estão emancipados por um clima de liberdade de expressão." Um tipo de consciência e coragem, uma emancipação que parece bem distante da nossa realidade midiática.

Seguindo o texto: "É cada vez mais óbvio que as fraudes corporativas devem ser tratadas de forma eficaz. Nos EUA, os responsáveis pela a maior revelação de fraudes são os funcionários, seguidos pelos órgãos reguladores da indústria, da mídia, os auditores (...) que expoem cerca da metade de todos os riscos de fraude. A exposição das informações em conjunto com o relato corajoso, vai derrubar as administrações, que dependem de esconder a realidade de seus próprios cidadãos".

"A corrupção corporativa assume muitos feitios. O número de empregados e volume de negócios de algumas empresas excede a população e o PIB de alguns Estados-nação. Comparando países, tamanho da população e PIB, é comum comparar também o sistema de governo, os grupos de maior poder e as liberdades cívicas disponíveis para suas populações."

"Fazendo comparação das grandes corporações com um Estado-nação revelam-se as seguintes analogias:

1.O direito de voto não existe, exceto para acionistas (análogo aos proprietários de terra) e ainda há poder de voto proporcional à propriedade.
2.Um comite central tem todo poder sobre os problemas.
3. Não há equilíbrio na divisão de poderes. Não há nenhum quarto estado. Não existem júris e inocência não se presume.
4. Falha no cumprimento de qualquer ordem pode resultar no imediato banimento.
5. Não há liberdade de expressão.
6.Não há direito de associação. Qualquer namoro entre homem e mulher, sem aprovação, muitas vezes é proibido
7.A economia segue um planejamento centralizado.
8.Existe vigilância generalizada sobre os movimentos e comunicações eletrônicas.
9.A sociedade é fortemente controlada, ao ponto de muitos empregados serem informados quando, onde e quantas vezes ao dia, eles podem ir ao banheiro.
10.Existe pouca transparência e algo parecido com o Freedom of Information Act é inimaginável.
11.Grupos de oposição interna, tais como sindicatos, estão proibidos, vigiados e / ou marginalizados, sempre que e onde seja possível."

As práticas empresariais estarão sendo implantadas nos órgãos públicos? Estará o estado copiando o modelo de gestão empresarial? Será por isto que a cada dia se restringem mais liberdades cívicas? Será por isto que se multiplicam as câmeras do big brother nas ruas, nos elevadores, na repartições, nas escolas, nas lojas? Dizem que é "para manter a segurança". Isto é uma confissão da falha do estado no cumprimento estrito dos interesses da nação.

Assim nos países onde a democracia funciona apenas como um rótulo obrigatório para o convivio entre civilizados, as empresas de todo porte têm campo aberto para os lobistas, para manipular políticos, juízes e todos os que tomam decisões de poder. Se se quer mesmo um estado democrático e uma nação livre, as grandes corporações, negócios e personalidades de estado tem de ser vigiados de perto. Se as midias fossem realmente livres, esta tarefa estaria facilitada.

É exatamente o mais intenso campo de ação cultural predatoria dos que desejam erigir a Empresa Terra S.A. É por isso que se prepara o maior controle da informação.

Um comentário:

  1. Caro Arlindo,
    Excelente artigo, como sempre. Coloquei o link e meu comentário no Facebook.
    Maria Cecilia

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