domingo, 29 de março de 2009

31 DE MARÇO DE1964

Antecedentes

“A renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961 deixou claro que os anseios do renunciante eram, efetivamente, os de voltar ao poder por aclamação popular com respaldo das Forças Armadas. Jânio Quadros fez coincidir a data de sua renúncia com a viagem que o vice-presidente João Goulart fazia à União Soviética e à República Popular da China, em missão comercial.”

“Mas a mobilização popular que Jânio Quadros esperava para a sua volta triunfal ao governo, não ocorreu. No Congresso Nacional, fundiram-se os interesses partidários. Além do Partido Trabalhista Brasileiro PTB, o PSD, a UDN e outros partidos de menor representação parlamentar vincularam-se à campanha pela legalidade.”

“O veto militar à posse do vice-presidente, revelou-se profético: "Na presidência da República, em regime que atribui ampla autoridade e poder pessoal ao chefe do governo, o Sr. João Goulart constituir-se-á, sem dúvida alguma, no mais evidente incentivo a todos aqueles que desejam ver o país mergulhado no caos, na anarquia, na luta civil. As próprias Forças Armadas, infiltradas e domesticadas, transformar-se-iam, como tem acontecido em outros países, em simples milícias comunistas."

“O deputado Pascoal Ranieri Mazzilli, do PSD, presidente da Câmara dos Deputados e no exercício interino da presidência da República, alinhavou nos bastidores - em comum acordo com os ministros militares - a solução política para sair da crise: a Emenda Constitucional nº. 4, que instituía o parlamentarismo no país.”

A verdade dos fatos

“A resistência à Contra-Revolução de 31 de Março de 1964, foi mínima. O governo deposto e seus aliados buscaram refúgio no exterior. João Goulart exilou-se no Uruguai, seguido quinze dias depois por Leonel Brizola, frustrado pela impossibilidade de repetir 1961. Ministros pedindo asilo em embaixadas, líderes políticos, sindicais e estudantis detidos.”

“Do outro lado, celebrações na maior parte da classe média, passeatas monumentais, marchas “da Família com Deus e pela Liberdade”. Os generais tomaram a chefia do movimento, isolando políticos espertos que imaginavam ocupar o palácio do Planalto através do eterno substituto, Raniéri Mazzilli, presidente da Câmara. No Rio, formou-se uma Junta Militar, denominada Comando Supremo da Revolução, com o general Costa e Silva, o almirante Augusto Rademaker e brigadeiro Francisco de Assis Correia de Mello.”

“O sentimento predominante nas Forças Armadas acabou levando um Congresso desmoralizado, sem representatividade, a eleger o marechal Castello Branco para completar o mandato antes pertencente a Jânio Quadros e depois a João Goulart. Quarenta e cinco anos depois, a verdade é que, em primeiro lugar, os militares só saíram dos quartéis quando estimulados pela opinião pública. Não dispunham de plano ou programa de governo.”

“Os cinco generais sucessivamente eleitos pelo Congresso Nacional para a presidência, souberam manter firmes as estruturas da soberania nacional e a presença do Estado nas atividades fundamentais da nação. Não passou pela cabeça de nenhum deles privatizar a Petrobras, a Vale do Rio Doce, a siderurgia, a navegação de cabotagem, o sistema de geração de energia elétrica e, em especial, o sistema de telecomunicações, que implantaram. Antes dos governos militares, o Brasil se comunicava por meio de linhas telefônicas e por um precário sistema de rádio.”

“A rede de microondas havia sido iniciada por Juscelino Kubitschek, mas foi a partir de 1964 que passou a integrar nossas diversas regiões, depois interligadas pelos satélites, nos quais se investiu para valer. Nosso ingresso na energia nuclear também aconteceu naquele período, enquanto se construíram usinas hidrelétricas do porte de Itaipu. Até a indústria bélica se afirmou, com a produção de carros de combate e armamento sofisticado, que exportamos por vários anos, antes de sua destruição por obra de manobras estrangeiras. Para não citar a indústria aeronáutica, sobrevivendo até agora.”

“Durante a vigência dos governos militares iniciados em 1964 a política econômica jamais favoreceu a especulação financeira desmedida ou serviu para sufocar a indústria nacional. Muito menos a dívida externa tornou-se impagável. Nem o desemprego, a indigência, a fome, a miséria e a violência urbana nos assolavam tanto quanto neste início de novo século. O Brasil conheceu uma era de pleno emprego.”

As opções políticas na década de 60

“Uma das maiores distorções é o mito de que soldados maldosos, aliados à “burguesia” nacional “ameaçada em seus privilégios” - e subordinados às demandas maquiavélicas dos Estados Unidos - resolveram abortar pelas armas a política conduzida por um governo legítimo e que atendia aos “anseios populares”.

“Em 1959 a geopolítica da América Latina tinha virado do avesso pela tomada do poder em Cuba por Castro, que logo assumiu sua condição de comunista e se aliou à URSS. Seguiu-se um banho de sangue de proporções inimagináveis – do qual é proibido falar! - e a lenta e progressiva instalação na ilha de numerosos instrutores soviéticos que adestraram tropas cubanas, formaram e exportaram guerrilheiros e terroristas, e re-estruturaram o sistema de Inteligência.”

“Através desta “cabeça de ponte” aumentou sobremaneira a influência da URSS na AL. Os jornais noticiavam diariamente as tentativas de derrubada do governo legitimamente eleito da Venezuela, país-chave pela produção petrolífera. O próximo objetivo estratégico era o Brasil, país imenso, já em fase inicial de industrialização e cujas Forças Armadas representavam um poderoso obstáculo à penetração comunista no Continente.”

“Um documento em que a AP (Ação Popular, ligada à Igreja Católica) se declarava francamente a favor da instalação de uma ditadura ao estilo maoísta e foi mantido secreto até para os militantes da base. O documento, que era obviamente o produto de uma luta interna na esquerda mundial, defendia a luta em três etapas: reivindicatória (movimentos populares, greves); política (início das guerrilhas no campo, como na China e Vietnam) e ideológica (a formação do Exército Popular de Libertação).”

“Após a renúncia de Jânio, os Ministros Militares e amplos setores civis se opuseram à posse de Jango por suas notórias ligações com a esquerda. Brizola, Governador do Rio Grande do Sul reagiu, o Comandante do Terceiro Exército, Gen. Machado Lopes, ficou do lado dele e o Brasil esteve à beira da guerra civil. Brizola tomou todas as rádios de Porto Alegre e obrigou as demais a entrarem em cadeia, a Cadeia da Legalidade! Com a emenda parlamentarista tudo se acalmou, mas em janeiro de 63, num plebiscito nada confiável, o país retorna ao Presidencialismo.”

“Em 1963, Leonel Brizola, então deputado federal organiza “Grupos dos Onze”, (grupos armados como guerrilha, para atuar no campo e nas cidades) que desencadeariam a revolução comunista. Nesse ano, Brizola ofereceu a coordenação nacional desses grupos a Herbert José de Souza (o Betinho), então assessor do ministro da Educação.”

“Os cubanos haviam entregue a Brizola, um milhão e duzentos mil dólares. Os jornais divulgaram que 300 mil seriam para a coluna militar-operacional, 300 mil para a montagem do esquema político-diplomático e infra-estrutura política dentro e fora do Brasil, 400 mil para aquisição de armas e fundos de provisão e mais 200 mil não se sabe para que.”

“O MASTER (nome do MST da época), invadia terras no RS, no Banhado do Colégio, em Camaquã e as Ligas Camponesas, de Francisco Julião, com apoio explícito do Governador Arraes, no Nordeste. A CGT, (presidida por Dante Pelacani) e a UNE (José Serra) propunham abertamente um golpe com fechamento do Congresso. Armas tchecas começaram a surgir. O ano de 1963 foi uma agitação só. O movimento estudantil estava dividido entre a Ação Popular (AP) e o PCB. Quem não viveu aqueles tempos dificilmente pode imaginar o nível de agitação que havia, com greves sucessivas que paralizavam todo o país.”

“No início de março de 1963 o Ministro da Educação, Sambaqui, num encontro com estudantes da AP em Pelotas/RS, revelou o cronograma dos comunistas: dia 13 de março, o comício das reformas, em local proibido para manifestações públicas (em frente ao Ministério da Guerra); na continuação o levante dos sargentos do Exército e da Marinha - formando verdadeiros soviets - e pelos Fuzileiros Navais em peso, comandados pelo “Almirante do Povo”, Aragão. Seguir-se-ia o discurso de Jango no Automóvel Clube do Brasil. A pressão final sobre o Congresso seria em abril e maio: se não aprovasse as “reformas de base”, seria fechado com pleno apoio popular.”

“No comício do dia 13 de março de 1964, Brizola pregou o fechamento do Congresso se não aprovasse as tais “Reformas de Base” (na lei ou na marra). Prestes dizia que os comunistas já estavam no Governo, só faltava tomarem o Poder. Não havia, opção democrática alguma. Ou o predomínio dos comunistas, ou uma ditadura ao estilo peronista, chefiada por Jango.”

19 de Março de 1964

“As Marchas da Família com Deus pela Liberdade estavam nas ruas exigindo o fim da baderna e em apoio ao Congresso. A primeira ocorreu em São Paulo, a 19 de março, no dia de São José, padroeiro da família. Organizada pela Campanha da Mulher pela Democracia (Camde), União Cívica Feminina, Fraterna Amizade Urbana e Rural, entre outras entidades e sindicatos, a marcha paulista recebeu também o apoio da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo.”

“Participaram mais de trezentas mil pessoas. Terminou na Praça da Sé com a celebração de missa "pela salvação da democracia", quando foi distribuído o Manifesto ao povo do Brasil, convocando a população a reagir contra Goulart. Repetiram-se em outras capitais e ficaram conhecidas como "marchas da vitória". A última, no Rio de Janeiro, levou às ruas cerca de um milhão de pessoas no dia 2 de Abril de 1964.”

“A participação americana na Contra-Revolução, chamada de “Operação Thomas Mann” (nome do então Secretário de Estado Adjunto para a AL) revelou-se uma grande mentira. Os “documentos” foram forjados pelo Departamento de Desinformação russo, através da espionagem Tcheca. Quem montou a operação foi o espião Ladislav Bittman que, em 1985 revelou tudo no seu livro “The KGB and Soviet Disinformation: An Insiders View”, Pergamon-Brasseys, Washington, DC, 1985. Segundo suas declarações, “A Operação foi projetada para criar no público latino-americano uma prevenção contra a política linha dura americana, incitar demonstrações mais intensas de sentimentos antiamericanos e rotular a CIA como notória perpetradora de intrigas antidemocráticas”.

“Outra fonte que desmente cabalmente tal mentira é o livro de Phyllis Parker “Brazil and the Quiet Intervention: 1964”, Univ of Texas Press, 1979, onde fica claro que os EEUU acompanhavam a situação de perto, faziam seus lobbies e sua política com a costumeira agressividade, e tinham um plano B para o caso de o país entrar em guerra civil. Entretanto, não há provas de que os Estados Unidos instigaram, planejaram, dirigiram ou participaram da execução de 64.”

“Embora as revelações tenham sido tornadas públicas em 79/85, a imprensa brasileira nada publicou a respeito não permitindo que a opinião pública tomasse conhecimento da mentira que durante anos a enganou. Apenas a revista Veja na sua edição nº 1777, de 13/11/02, publica a matéria “O Fator Jango”, onde este assunto é abordado.”

(Toda a informação é de material publicado pela imprensa da época)

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