Por Chico Otavio
O diretor de Operação e Comercialização do Sistema Furnas, Fábio Resende, que deixará o cargo no dia 1 de setembro por iniciativa própria, disse ontem que ingerências políticas em Furnas estão provocando quebra de hierarquia interna, com riscos para o bom funcionamento do sistema elétrico brasileiro.
— As correntes políticas que hoje predominam nas indicações para dirigentes de Furnas estão deteriorando as relações de confiança entre os empregados e suas chefias em algumas áreas do escritório central — declarou o diretor, evitando citar os políticos que mais o incomodam.
Fábio disse temer que a indicação de seu substituto obedeça a critérios políticos e não técnicos. Ele alertou que, se isso acontecer, haverá risco para um setor estratégico do sistema — a Diretoria de Operação responde por 11 usinas, 46 subestações, 19 mil quilômetros de linhas de transmissão e três mil empregos.
— Hoje, a expectativa é de quem vai ser o meu sucessor.
As pessoas não entendem a importância desse setor. O governo deveria pensar muito bem antes da escolha. Se for uma indicação política irresponsável, vai afetar o sistema inteiro — disse Resende.
Fábio Resende, de 65 anos, trabalhou por 41 em Furnas, somadas três passagens pela empresa. Ocupa a diretoria há seis anos e oito meses. Irmão do ministro Sérgio Resende (Ciência e Tecnologia), ele disse que sua maior preocupação é com os efeitos colaterais da politização de Furnas junto às pessoas que trabalham nas subestações espalhadas pelo Brasil.
— Se semearem a mentalidade da indicação política, o amigo do prefeito vai se julgar no direito de não trabalhar um dia. Mas existe cadeia hierárquica. Se a organização não funcionar, fica muito ruim. Na verdade, se não tiver organização direta, ela prejudica tudo. Deteriora o ambiente de trabalho — advertiu.
Embora alegue que está saindo por “motivos particulares”, o diretor afirmou que as mudanças políticas feitas em Furnas desde a substituição do ex-presidente José Pedro Rodrigues Oliveira por Luiz Paulo Conde (que também já saiu), em agosto de 2007, foram “desagradáveis” e “abalaram a sua saúde”.
— Não se pode tratar Furnas como se fosse a administração de um estado ou de um município, onde, quando entra uma nova corrente política, muda-se tudo. Isso depreda a empresa — lamentou.
O ex-prefeito Conde, que é arquiteto e nunca trabalhara antes em Furnas, foi indicado pelo bancada fluminense do PMDB, que até hoje exerce forte influência no comando da estatal. O partido é acusado por entidades sindicais de ter feito pelo menos três tentativas frustradas de também assumir o controle do Real Grandeza, o fundo de pensão dos funcionários de Furnas.
A saída de Fábio Resende ocorre no momento que que o Real Grandeza inicia um processo eleitoral para a renovação de três dos seis membros do Conselho Deliberativo e dois diretores. Em outubro, já com a nova composição, serão indicados o novo presidente e o diretor de Investimentos. Entidades de classe como o Após Furnas (aposentados) e Sindicato dos Urbanitários de Brasília temem que a mudança abra caminho novas investidas políticas na entidade.
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