Por Percival Puggina
Há alguns meses, uma dupla
de vagabundos me encostou uma pistola na barriga e exigiu a chave do carro. Ainda sob o impacto do acontecido,
fomos, minha mulher e eu, à delegacia mais próxima relatar a ocorrência. Era o
que se impunha fazer naquele momento e esperávamos, ademais, que a notificação
urgente possibilitasse - quem sabe? - recuperar o que nos haviam roubado. Mas
isso não aconteceu.
Estou convicto de que
tivemos um comportamento normal. É o que se faz em tais circunstâncias.
Reage-se indo à polícia. Espera-se que os criminosos sejam apanhados. Exige-se
que as quadrilhas sejam trancafiadas.
Diante do que
acabo de descrever, impõem-se inquietante questão: por que, diabos, quando na condição de cidadãos que vêm
o país ir à gaita, tantos se recusam a admitir que estão sendo roubados? Por
que, após serem ludibriados com mentiras, muitos se mantêm defendendo os
mentirosos?
Que síndrome de Estocolmo
(1) social e economicamente sinistra é essa que ainda sai às ruas, assina
colunas de jornais, esgrima comentários no rádio e na tevê e se entrincheira
nas redes sociais para defender o governo? Agem como vítimas que, após o dano
sofrido, saem conversando amavelmente, abraçadas com quem as prejudicou -
"Bye, bye, voltem sempre!"
Recebi, ontem um
levantamento segundo o qual, somando-se os filiados ao Partido dos
Trabalhadores com os militantes do MST, Via Campesina, MTST, UNE e ONGs
financiadas pelo governo federal, acrescidos dos blogueiros, MAVs pagos pelo
partido e titulares de cargos de confiança, chega-se a umas 15 milhões de
pessoas, ou seja a 7% do eleitorado. E esse seria, portanto, o piso da aprovação
ao governo.
No entanto, os números
parecem um pouco inflados. Há gente que não se enquadra em qualquer dessas
categorias e se conta entre os tais 7%. Quando milhões saem às ruas em centenas
de cidades do país, expressando a natural indignação de quem se percebe
roubado, ludibriado e vítima de estelionato eleitoral, os protetores do governo
tratam de desqualificar suas admiráveis manifestações. Afirmam que são
mobilizações exclusivas da classe média, como se um governo que fez mais da
metade dos votos e em poucos meses cai para 7% de aprovação, não tivesse
perdido apoio de todas as classes sociais.
E tem buscado, inutilmente,
arregimentar apoios, também, no andar térreo, convocando os
"exércitos" de Stédile (MST) e de Vagner Freitas (CUT). Que fiasco!
Para cada cem manifestantes do dia 16, o governo conseguiu, no dia 20,
transportar e colocar nas ruas uns 4 ou 5 gatos pingados, que se moviam em
visível constrangimento e com a animação de velório de monge budista. Não é
humano, não é natural, não é normal, aplaudir corrupção, inflação, desemprego,
carestia, recessão e incompetência. Quando isso acontece, ou há interesses em
jogo, ou é síndrome de Estocolmo.
(1) Essa
síndrome designa o vínculo emocional com os sequestradores, desenvolvida pelos
sequestrados durante um roubo a banco na capital da Suécia em 1973.
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