sábado, 9 de maio de 2015

DUAS MÃES

O "Dia das mães" deveria ter outra a denominação: "Dia comercial para presentear a sua mãe". Quando comecei a trabalhar, aos 16 anos, recebi o envelope com o primeiro salário e sai correndo antes que a loja que estava a um quarteirão, fechasse.

Na vitrine estava a floreira redonda de cristal, que namorei durante muito tempo, para ver um sorriso de alegria e receber o abraço e o beijo carinhoso da minha mãe. Aquilo aconteceu num dia qualquer, um dia igual aos outros. E a cena ficou gravada na memória visual, ela abrindo cuidadosamente a embalagem verde com flores brancas e exclamando: "Que bonito filho...É cristal...Me dá um abraço". 

Passados tantos anos, não duvido que o melhor daquele momento para ambos foi o abraço, a manifestação do carinho maternal para mim e do carinho filial para ela. A floreira ficou esquecida naquele momento, no centro da mesa, onde morou durante anos.

A outra mãe que sempre arrebatou meu coração, à medida que a escola pública me instruía sobre os detalhes de sua existência, mostrando os contornos físicos e a natureza que nos alimentava, os rios que matavam a sede e a beleza de sua face verde florida.

Apenas um conceito, Pátria amada, um pedaço de território no planeta terra, compartilhado por caboclos, negros, brancos e amarelos que falavam a mesma língua e se entendiam com sotaques particulares, como diferentes instrumentos de uma orquestra de nome Brasil.

Durante algum tempo andei por terras de outros continentes, aprendendo da história, dos idiomas, da culinária, das crenças e comportamentos mais diversos. E sempre comparava os hábitos de outros povos com os hábitos e preferências, escolhas e atitudes cultivados na minha mãe pátria.

A cada noite, antes de adormecer, minha oração era voltada para minhas mães, meus irmãos e meus amigos que estavam a léguas de distância. A visão, todos os sentidos entulhados com variedades exóticas, - arquitetura de rara beleza, paisagens deslumbrantes, climas extremos, frutos, cantigas - teimavam em voltar ao abraço da minha mãe pátria.

Ao revendo o contorno dançante das ondas e dos coqueirais, esqueci todo o mundo recorrido e me entreguei àquele abraço, aquele cheiro, sons e sabores da pátria mãe que me abraçava e me presenteava com a seiva da vida. Era a minha mãe, a mãe da minha mãe e dos meus irmãos. O meu pedacinho na terra.

Que as mães e os filhos da mãe guardem bem a lembrança de cada dia, agradecendo o milagre da vida, o bem de ter nascido e o dever de defender esta terra e os que vivem aqui em liberdade. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário