quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

DEMOCRACIA OU CABRESTOCRACIA?

Por Arlindo Montenegro



Pense aí na cor verde. Imagine as variações de percepção que cada pessoa terá diante da proposição: verde escuro, verde oliva, verde bandeira, verde garrafa, verde claro... Assim cada pessoa percebe o discurso da outra parte, associando-o a uma experiência, a uma emoção. Na verdade é assim que funcionam todas as percepções abstratas.


Diante do concreto a verdade única é percebida com significados diferentes, associados à experiência, informação cultural e expectativas individuais. O Deus de cada um, os deuses dos outros e até os "extra terrestres" que contam com muitos crentes, confortam, conformam, disciplinam as buscas e escolhas atuando como presença ética, moral, do modo como as religiões têm fundamentado a evolução das civilizações.

Estão por aí, os sapientes de tudo e detentores de todas as verdades atuais e futuras, com ares de "escolhidos",que se regem, se guiam pelas oscilações das bolsas de valores, o preço do ouro, do petróleo e comodities de mercado futuro. São frios, calculistas e refratários às emoções características dos humanos comuns. São os psicopatas que parecem estar no governo, em cada país, na atualidade.

Criaram e tentam impor novos conceitos de democracia, invertendo o entendimento tradicional desta utopia, que encerra os melhores aspectos da construção de sociedades civilizadas. Que resumem a prática das liberdades, no convivio respeitoso de todas as crenças e percepções do Deus de cada um, desarmado de preconceitos e facilitando a evolução natural e as trocas materiais necessárias, guardados os códigos e costumes culturais de cada um em seu espaço.

Hindus, maometanos, budistas e mais tarde as tribos judaicas, berço do cristianismo, conhecem e aspiram construir a utopia democrática. Hoje se pode perceber que isto é impossível, quando o estado interfere e dita o que pensar, como fazer, como rezar, disseminando preconceitos, racismo e divisões ideológicas, comportamentos exaustivos para o equilíbrio da família e do indivíduo. O resultado é a pobreza mental e material, dependente de uma casta ideológica ou religiosa, que depende dos tesouros de banqueiros.

A liberdade de pensamento e expressão é fundamental para o aprendizado da liberdade. O aprendizado desde o berço sobre o funcionamento deste complexo físico e mental, que assegura o encontro de cada um com suas possibilidades naturais, é essencial e tem sido desprezado, desvirtuado pelos sistemas educacionais, impostos pelo estado e pelas religiões desviadas de seus fundamentos, privilegiando os currais de apoio ao poder.

Esta liberdade essencial, - sem limites mentais, sem imposições religiosas ou ideológicas, mas reforçando as buscas e convicções religiosas e ideológicas que verdadeiramente afirmem o indivíduo, comprovando a evolução da ordem social – tem sido a liberdade-motor das conquistas democráticas, afirmando a maturidade e a civilização de cada grupo de crentes ou descrentes em seu estagio de evolução na direção do transcendente.

Assegurar esta liberdade seria o princípio retor desejável de toda ação governamental, no marco do estado de direito universal e da distribuição de justiça, assegurando e fortalecendo a família, a Pátria-território como propriedade inalienável para uso fruto dos nacionais.

O patrimônio intelectual da humanidade já tem reunido o suficiente para escolher formas úteis de organização do estado. Há uma linha de conduta exposta, demonstrando que algumas "raças", "tribos", "grupos secretos" se consideram superiores, apenas porque manobram há milênios a administração das economias produzidas pelo trabalho, em suas versões diferentes nas eras históricas.

Democracia é o convívio de cada pessoa, de cada grupo com o outro, cada nação com a outra, sem imposições de força humana ou divina. Sem a opressão de estado ditatorial, sem opressão ideológica, sem opressão religiosa obrigando e limitando as escolhas individuais, estas sim limitadas pela responsabilidade-dever de respeito ao semelhante, limitadas pelo contrato social e este, sucinto, claro, alicerçado em valores culturais e consuetudinários. Estado de direito sem cabresto.

É importante educar para pensar. Para isto é necessário exercitar e desenvolver as habilidades, desde a infância, para lidar o cérebro, conhecer a máquina física e a fantástica capacidade que cada um possui. Ensinar o mundo como é e o significado da liberdade criativa. Melhor e mais produtivo, melhor e mais racional que desviar a atenção infanto juvenil para as questões de evolução e escolhas naturalmente privativas.

Estamos na encruzilhada: de um lado o domínio de tantas e tão aceleradas mudanças e o volume de informações sedutoras e já provadas como limitantes e desastrosas. De outro lado a construção da utopia democrática que cada dia, temos sido incapazes de processar, refletir e decidir. 

Estamos abrindo mão de liberdades essenciais, quase sem perceber. Cada um sente a insatisfação "não sabendo" o porque. E muito se resume em buscar as respostas para as velhas perguntas: o que sou eu? Porque estou aqui? O que quero fazer para marcar minha passagem nesta vida?

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