Chegou
cansado da viagem pelo metrô e ônibus entupidos. A televisão estava ligada e a
mulher estava na cozinha preparando algum de comer.
-
Oi! Que temos de bom?
-
A surpresa de todo dia... Vai tomar seu banho...
-
E os meninos?
-
Foram acompanhar a tia Estela.
Sentou-se
um pouco no sofá e viu de relance a imagem do corpo do policial queimado, crianças
do morro armadas com fuzis AK, mira telescópica, - sabia porque tinha passado
pelo serviço militar - o container no porto cheio de droga o fez lembrar das
cenas dos bandidos fugindo de um morro "pacificado" para o morro
vizinho, onde o império da droga foi dividido entre duas facções. Um território
com leis próprias. As leis do crime organizado pelos narcotraficantes.
Levantou-se
para tomar o banho pensando que as notícias chegavam pela metade como se alguém
levantasse um véu para esconder os beneficiários e mandantes daquela guerra
desgraçada. que atacava de surpresa e matava em qualquer lugar. Estava muito
mudado o Brasil. A gente comum como ele só queria trabalhar, viver, educar os
meninos, dar bom exemplo no bairro, ir à igreja de vez em quando pra não se
viciar, que até os padres e pastores estavam com um papo muito furado.
Acabou a higiene e no quarto, abriu o
notebook sobre a mesinha pra caçar as notícias que a televisão não dava. "Washington
- Os Estados Unidos apreenderam 191 toneladas de cocaína no ano fiscal de 2015,
um aumento de 20 por cento em relação a 2014, o que reflete a crescente colaboração
regional no combate às drogas, informou na quinta-feira o chefe do Comando Sul,
general John Kelly."
O tal general era o manda chuva do Comando
Sul dos EUA. Um quatro estrelas responsável pelo combate às drogas na América
Latina, atuando em coordenação com a DEA. Lembrou que só em Nova Iorque
gastaram 400 milhões de dólares no combate ao tráfico. E ficou pensando que no
Brasil os militares nem ligavam para as mais de 50 mil mortes da nossa guerra,
que a polícia nem sabia mais o que fazer. O general americano dizia contribuir
para a total segurança da zona, com treinamentos, exercícios de prontidão e
capacitação, citando a tríplice fronteira do Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru,
Bolívia...
Falando no Congresso, disse: "... Em
face da disseminação corrosiva de redes criminosas e outras ameaças, temos de
trabalhar ainda mais para assegurar que o Hemisfério Ocidental seja é um farol
de liberdade, democracia e paz... " E o Brasil? Por que os militares não
agem conscientes desta urgência fazendo
algo aparentado? Será que o Exército, a Marinha, a Aeronáutica não sentem responsabilidade
pelos milhares de vidas, nem pela destruição moral e econômica do país onde o
crime organizado deita e rola?
Nos Estados Unidos os militares assumem
a responsabilidade no combate às drogas, exercendo seu dever e se comprometem
com a segurança nacional e das Américas. Porque o nosso exército não segue o
exemplo? Ocuparam uns morros no Rio, tiveram baixas e saíram, pichados pelas
ongs de "direitos dos manos". Por que não garantem a segurança dos
cidadãos numa guerra que nos perturba e agride, em casa, nas escolas, no
comércio, nos locais de trabalho, nas ruas, com violência crescente?
Bastava um comando regional agir, entrar
na guerra, que o crime organizado iria perder suas áreas. Uma ofensiva contra
os terroristas tapando as fronteiras e marchando do sul para o norte e centro
oeste. Pacificar o Brasil. Mostrar aos políticos que os brasileiros estão
morrendo enquanto eles obedecem a cartilha dos comunistas. Mostrar que ainda
existe dignidade e sentimento de identidade pátria. Mostrar que os militares
têm um dever e que historicamente poderão ser responsabilizados criminalmente
por leis previstas nos códigos militares e na Constituição.
- Deixa este computador e vamos jantar,
disse a mulher abraçando-o por trás e apoiando o queixo em seus cabelos úmidos.
Lembrou da infância livre e solta brincando na praça. O filho mais velho estava
pensando em fazer serviço militar, num exército bem diferente, que dispensava
os soldados por faltar alimento nos quartéis...
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