(Texto enviado como correspondência a Maria Cecília
Gouveia, uma velha amiga da internet a quem nunca ví.)
Pois então: naquele tempo não havia aspartame
nos refrigerantes. La no nordeste a coca cola e a cerveja chegavam em garrafas,
em parcas remessas, de navio. Bom mesmo era o Guaraná Caçula e os refrigerantes
locais - Guaraná Fratelli Vita, Jade - com polpa de frutas. Os sorvetes também.
Ainda lembro do sabor de chocolate, processado com o cacau que chegava da
Bahia.
Minha primeira coca cola, ganhei aos 9 anos, estava
no chão do jeep do meu primo. Vi e perguntei: que é isto? e êle: é
refrigerante, pega pra você, é bom... Saí correndo pra cozinha, buscando o
abridor. Verti no copo ouvindo o "chiii" e olhando as
bolinhas. Tomei um golão e cuspi. Que horror aquela coisa com gosto estranho,
gosto de remédio, pouco doce e que parecia ferver na garganta. Foi bom. Nunca
mais tomei a droga. E tenho pena de quem é viciado... prefiro suco de caju e
água de coco... Ah... sim também gosto de genipapada, doce de araçá cagão e
sorvete de mangaba.
Vê aí se arruma um vídeo sobre a fabricação de
cachaça de murici: uma delícia! com tira gosto de churrasco de gato, então!!! É
de lamber beiço.
Isto me lembra a história do sujeito que foi se
confessar:
- Qualé seu pecado, meu filho?...
- Bom seu padre, fora o normal, meu único vicio é
comer gato!
- Que horror, meu filho, isto Deus não gosta... é
contra a natureza... vai rezar trinta créimdeuspadre...
Semana seguinte, a mesma confissão e a penitência
dobrou. O cara ficou com calos nos joelhos, coitado, só porque gostava de comer
gato.
Mas como bom católico, continuava confessando, toda
semana, até que o padre, num dia chuvoso, perguntou:
- Como é que você faz pra comer o gato?
- Bom, seu padre, primeiro dou uma paulada na
cabeça pro bichano não sentir a dor. Depois esfolo e guardo o couro que vendo
pra escola de samba fazer tamborim. Depois asso, ou faço refogado com batata...
o senhor precisa experimentar.
E o padre choromingando: - Por que não me disse
isso antes... estou todo arranhado...
Agora, se quer saber, uma das coisas que não topo é
buchada de bode, daquelas que o Fernando Henrique comeu no Bodódromo, lá em
Petrolina enquanto buscava votos. Você já foi lá? É uma festa. Na entrada existe
uma estátua, um bodão chifrudo que parece aquele o capeta "dusinferno"...
É carro pra todo lado, é música do forró irritando "usuvido" da
gente. Nem fiquei que não aguentei o fedor. Preferi comer um excelente filé de
peixe (não era atum) com alcaparras, num restaurante espanhol "Barcelona",
na beira do São Francisco quase seco coitado e com as areias fedendo a mijo.
Que pecado!
Na passagem pelo bodódromo, lembrei uma menina que
namorei aí no Rio, a Lucimar. O pai dela era paraibano e resolveu, ele,
veja só! convidar os amigos pra comemorar seu aniversário com uma comida típica
da Paraíba. La estava o bestão, sentado ao lado da Lucimar, no meio de toda
aquela algazarra que só carioca com a cara cheia de cerveja sabe fazer, quando
a mãe dela uma bela e pacata senhora (desajustada naquele cenário) bateu palmas
e sussurrou:
- Pessoal... vamos para a mesa... está pronto.
Fomos. Inda bem que serviram uma salada saborosa de
entrada. Nem tinha acabado ainda e alisava a coxa da Lucimar por baixo da
toalha, quando o pai gritou:
- Tô indo! Ta pronta!
A porta da cozinha foi aberta e ele surgiu risonho
com uma salva contendo uma desajeitada bola-oval (existe isto?) e colocou-a à
cabeceira onde estava a pilha de pratos. Ia iniciar o serviço. Aquilo parecia
um ritual. Silêncio. Olhos grudados na bola-oval, escura, parecendo
suja, um troço estranho num berço de salsinha envergonhada. Pegou a
peixeira brilhante e meteu no bucho que encerrava o sarapatel de bode. A sala
do almoço festivo ficou de imediato impregnada com o cheiro da iguaria. Um
solene cheiro de peido bem fedido!
Pedi licença e saí. Lucimar me acompanhou e disse
baixinho:
- Acho que papai não lavou direito o bucho do
bode... mas a gente vai ter de comer, nem que seja um pouquinho...
Acabei o namoro ali mesmo e deixei um recado de
desculpas à família. O nojo não valia esperar para comer
o bolo com champanha na sobremesa, nem mesmo comer a Lucimar assada ao sol
nas areias de Copacabana... Lucimar.... De sobremesa sorvete de araçá ou de mangaba.
Essas nordestadas são pretensiosas e ridículas. Falam como se fossem mais sábios do que os outros...nunca gostei disso. Não acho que essa pretensão de serem os "verdadeiros" brasileiros, demonstrada com bizarrices, seja ao menos engraçada. Acho que seja apenas um retrato de um atraso sem-vergonha e da falta de boa educação. Não é mais o tempo disso aí não! No sudeste isso é bem risível pela pobreza e pelo espalhafato grosseiro.
ResponderExcluirO ilustre anônimo deve gostar muito de buchada. Talvez isto o faça ficar enfezado com uma brincadeira de nordestino que nunca se afastou de suas raízes, que nem o joazeiro.
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