Por Arlindo Montenegro
Logo ali, a uma legua de beiço da cidade, tenho um amigo chamado Zé Roberto. Desde os 15 anos, trabalhou feito um jegue, que sendo órfão sempre encontrava uma alma "caridosa" que o acolhia em troca de serviços braçais, plantando, colhendo, cuidando de galinhas, porcos e cães e deixando tudo limpinho para a chegada do patrão e convidados todo fim de semana.
Aí o trabalho dobrava: era lavar carro cheio de lama, abastecer o fogão de lenha, colher as verduras na horta, ajudar a limpar toda área da churrasqueira, a cozinha, alimentar os cachorros, passear com os visitantes pelas trilhas do mato, gelar as cervejas, assar as carnes... gostava mesmo era de levar as moças na cachoeira, que elas ficavam quase nuinhas, dando gosto de ver a água espumenta lavando os corpos lisinhos, brilhantes.
Zé não foi à escola mais que naqueles quatro anos em que viveu com a vó e era obrigado, senão o pau comia. Depois ficou só no mundo fazendo um trabalhinho aqui e acolá, sorrindo sempre, respeitoso sempre e rezando sempre prá encontrar um caminho honesto e livre de adversidades. As gorjetas e o pouco dinheiro que recebia pelos "bicos", ia juntando numa caderneta de poupança que o pai tinha deixado prá ele mexer somente depois dos 18 anos.
Roupa êle ganhava, quase nova, dos moços que visitavam o sitio, tudo de griffe, tenis, camiseta, boné, bermuda. Chegou o dia dos 18 anos e um amigo o orientou para fazer a identidade, a carteira de trabalho e os papéis que lhe conferiam cidadania. Apenas comentou "quanta coisa prá provar que sou gente, quanto trabalho pra carteira assinada!" É assim mesmo Zé, disse o amigo, agora você vai pagar ao governo prá trabalhar. Arranjou um sócio prá vida inteira.
E agora Zé? Vou ver quanto juntei, que nem sei. Se der vou comprar um terreno e fazer uma casa pra casar e ter um filho, batizar e fazer ele estudar prá viver melhor que eu viví até agora. Dito e feito. Dez anos juntando de pouquinho em pouquinho na conta que o pai deixou, pegou o saldo da poupança e pergungou ao amigo: "este tanto dá prá um terreno?" Depende Zé, onde é o terreno que você quer?
Comprou. Quatro mil e poucos metros num loteamento afastado, cheio de mato. O contrato de compra e venda falava de guias e sarjetas, posteamento e água encanada a cargo da prefeitura. Zé podia desmatar 30% da área, estava no contrato. Mas só cortou umas madeiras para usar como postes e cercar o terreno com arame farpado. Tipo dizendo: aqui tem dono! Estava feliz, rindo atôa.
Passou a escritura, pagou as taxas e começou a pagar uns tijolos e uns sacos de cimento para construir uma casinha. Logo veio o trator da prefeitura, limpando a estrada e sem dó nem piedade, enterrou a cerca. Pois foi reclamar. Ficaram de verificar e o que chegou foi uma multa do meio ambiente, porque ele tinha cortado árvores sem permissão. Pediram uma grana por fora para regularizar. Ele se negou. Pagou a multa pesada do meio ambiente, parcelada.
Zé não sabe nada a respeito do PNDH. Não entende que o projeto coletivista odeia gente como êle. Não sabe o que estão tramando por toda a América do sul, mas já comecei a informá-lo, devagar, na linguagem que ele entende. Outro dia me perguntou sobre Cuba e como estava com uma página aberta sobre o assunto, li para êle:
O jornal eletrônicoespanhol "Libertad digital", publicou nesta Sexta Feira,23/04/10, um relato assinado por Martin Higueras, sobre o relacionamento entre Cuba e a Venezuela. Tradução livre:
"Desde 2003, a Venezuela recebe milhares de médicos cubanos, supostamente para atender as zonas mais desfavorecidas do país. A versão oficial do governo Chávez, é que o trabalho dos médicos paga a enorme quantidade de petróleo "vendida" e enviada a Cuba. O governo bolivariano assegura que são quase 15.000 profissionais cubanos na Venezuela. Mas os desertores falam de cerca de 40.000.
Os que defendem o regime dos irmãos Castro, justificam o alto nível dos médicos cubanos e seu sistema sanitário o que é falso neste último caso como já está provado. Agora, são justamente esses médicos que orgulham a ditadura, os que mais fogem. Não o fazem a partir da ilha, o que é muito difícil. Aproveitam das viagens que são obrigados a fazer ao exterior.
O diário colombiano El Tiempo, informa que cerca de 2.000 médicos que participam do programa de Chavez "Bairro adentro" – que completou 7 anos na última sexta feira – fugiram da Venezuela, através da fronteira ocidental, pelo estado de Zulia, para alcançar Santander, na Colômbia. A grande maioria foge com risco de vida, conseguindo seu objetivo depois de muitas horas de caminhada.
Para ilustrar os perigos, o jornal relata o encontro de um profissional cubano, com um compatriota, na rodoviaria de Maracaibo, ambos fugindo de Cuba e da Venezuela. Um deles pensa que o outro poderia ser "um dos 60.000 agentes da ditadura", que vivem na Venezuela para cuidar de Chavéz e vigiar de perto outros cubanos. Uma mulher relata que o que mais temem é encontrar um desses agentes, todos militares e conhecidos como "O jurídico". Eles tecem uma rede de informantes no seio dos proprios médicos. Assim, "ninguém fala com ninguém da ideia de fugir, nem com familiares!" Falar por telefone é proibitivo, está interceptado. Se utilizam email, está filtrado.
No fim do dia, encontraram-se 11 fugitivos em direção à Colômbia. Marisol Gomez Giraldo, editora do "El Tiempo", conta que o grupo foi barrado pela guarda venezuelana e teve os passaportes confiscados. Depois de uma hora na detenção, uma mulher aproximou-se para pedir "dinheiro em troco da liberdade". O preço cobrado era de 10 milhões de bolívares, (4.000 Reais), uma quantia que os médicos cubanos não tinham conseguido economizar. Juntando o que cada um possuia, chegaram perto e foram liberados para seguir em direção ao território colombiano."
Então Zé, é isto que tem muita gente querendo para o Brasil. Acredite, se quiser.
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