Por Carlos Alberto Montaner
Paira uma desconfiança crescente sobre as verdadeiras intenções políticas de Lula da Silva, dentro e fora do Brasil. A recente visita de Mahmud Ahmadinejad ao país é um péssimo sintoma. O ministro de defesa iraniano, Ahmad Vahidi, tem antecedentes criminais na Argentina, onde organizou o atentado terrorista contra a sede de uma Associação de Judeus (AMIA), em que morreram 85 pessoas e 300 ficaram feridas. Além disso, Ahmadinejad nunca retirou sua ameaça de apagar Israel do mapa.
Por que esse esforço brasileiro em aproximar-se dos iranianos que junto à Venezuela se empenha em coordenar uma estratégia diplomática hostil ao ocidente e construir armas atômicas?
Um diplomata venezuelano que não quer ser identificado, me disse que “Esta é outra prova da duplicidade moral de Lula”. E fez uma observação irrefutável: “Em 1990, Lula e Castro criaram o Foro de São Paulo, para revitalizar o comunismo desmoralizado com a queda do muro de Berlim. Esta família política abriga os narco-terroristas das FARC, o ELN e até o Movimento V República de Hugo Chávez. Reagruparam-se para continuar o combate. A única constante ideológica de Lula é sua rejeição ao Ocidente.”
Contudo, Lula tem muita popularidade no Brasil porque não se afastou da prudente linha econômica traçada por Fernando Henrique Cardoso. O Brasil atua como uma democracia, empenhada em impulsionar um modelo de desenvolvimento baseado no mercado e na propriedade privada dos meios de produção, enquanto adota a inserção aos mecanismos internacionais do capitalismo global.
Quem é Lula de verdade? O revolucionário do terceiro mundo, empenhado em destruir o primeiro mundo, substituindo por um planeta socialista, tocado por caudilhos truculentos e coletivistas, como sonha Hugo Chávez e outros profetas do caos? Ou é um social democrata moderado, dedicado ao desenvolvimento de uma economia de mercado, semelhante à que impera nas 30 nações mais ricas e felizes da Terra?
Temo que Lula encarna as duas coisas, simultâneamente, como sonho (sonhou, literalmente) Robert Louis Stevenson em l886, quando escreveu “O médico e o monstro”, para explicar a dualidade moral de um cientista bondoso, que se transformava em ser agressivo e detestável depois de tomar uma bebida (poção). A novela de Stevenson é uma metáfora que revela a luta entre o bem e o mal que existe na natureza de todos os seres humanos.
Estamos diante do Dr. Lula (o médico) e Mr. Chávez (o monstro). Quando o presidente brasileiro raciocina com a cabeça é o Dr. Lula, um homem afável, com senso comum, que conhece seus limites e os limites do país, comporta-se com respeito à Lei e respeita as liberdades individuais.
Quando manda o coração, órgão que está do lado esquerdo (como costuma dizer Marco Aurélio Garcia, principal assessor comunista de Lula, revela-se Mr. Chávez, o “companheiro revolucionário”, um sujeito convencido de que a pobreza do terceiro mundo é devida à roubalheira dos EUA e países imperialistas, à cobiça dos capitalistas nacionais estrangeiros, aos injustos termos de intercambio e o resto dos diagnósticos vitimistas desta carpideira seita ideológica.
Quando Lula manda com o coração e se transforma em Mr. Chávez (o monstro), instiga o Partido dos Trabalhadores, casualmente influenciado pelo conselheiro M.A. Garcia e José Dirceu – ex guerrilheiro treinado em Cuba e ex membro dos serviços secretos cubanos – para colaborar com as narco-guerrilhas colombianas, como revelaram os computadores de Raul Reyes, o comandante das Farc morto em 2008 pelo exército colombiano. Quando é Mr. Chávez (o monstro), entrega os três boxeadores que haviam pedido asilo no Brasil ao seu amigo Fidel Castro ou se alia irresponsavelmente com Mel Zelaya para abrigá-lo no espaço diplomático brasileiro em Tegucigalpa, negando (infantilmente) ter dado autorização.
Na novela de Stevenson, o Dr. Jekill comete o suicídio, incapaz de sofrer a dor de ser também Mr. Hyde. Qual será o fim de Lula? Suponho que como um respeitável estadista, ainda que secretamente golpeado pela angústia de não saber qual dos dois personagens é realmente.
Fonte: “El Diário Exterior”, edição de 3 de Dezembro 2009-12-03
Tradução livre, Arlindo Montenegro.
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