General Aloísio Rodrigues dos Santos
Não é fácil uma abordagem consistente e objetiva sobre o tema “tortura”, principalmente se a emoção prevalecer sobre a razão e se ainda estiver presente não apenas o confronto ideológico, alimentado pelo ressentimento dos derrotados, mas o pagamento de polpudas indenizações custeadas pelos cofres públicos, com recursos pagos pelos contribuintes.
Farei algumas considerações sobre tão relevante tema, utilizando um pouco da história de duas ex-militantes de organizações terroristas, de cunho marxista-leninista, que optaram pela luta armada como instrumento para a tomada do poder. Embora fossem responsáveis pela execução de missões simples e burocráticas, uma delas já participava, efetivamente, do planejamento de ações que foram realizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A primeira, Bete Mendes (Elizabeth Mendes de Oliveira) -”Rosa”, já na época -1969- artista (não atriz) de televisão, integrante da organização terrorista Vanguarda Armada Revolucionária (VAR) – Palmares, foi presa em 29/Set/1970 pelo DOI/II Ex. Companheiros da “Rosa”, outros sete jovens, também foram presos nesta mesma data, todos entregues aos pais e postos em liberdade em 16/Out/1970, aguardando julgamento. Os oito foram absolvidos em 1971.
Em Ago 85, Bete Mendes (ex-Rosa), Dep Fed por São Paulo eleita em 1982 pelo PT, mas sem partido, fez parte da comitiva do Presidente José Sarney em visita ao Uruguai, mesmo não sendo da base governista e sem uma razão aparente que justificasse a sua presença. Durante a visita ocorreram dois contatos rápidos e cordiais da Deputada com o Cel Ustra.
No seu regresso ao Brasil, Bete Mendes encaminhou ao Presidente da República, em 17 Ago, uma carta com acusações ao Coronel, ao mesmo tempo em que a encaminhava, também, à imprensa. Publicado com alarde por todos os meios de comunicação social (jornais, revistas, rádio e televisão), o acusado já estava antecipadamente condenado pelo público e Bete Mendes tornava-se uma celebridade nacional. Em conseqüência, novas declarações, novas publicações na imprensa, que não pesquisava nem confirmava a veracidade dos fatos, o que estimulava a novas declarações, com novas publicações. Assim, o linchamento continuava, com o acusado, em Montevidéu, atônito, surpreso e, praticamente, sem direito de resposta.
Extasiada com o sucesso, Bete Mendes não parou por aí, o que tornou aparentemente mais difícil e complexa a sua defesa. Acusou o Cel Ustra pela morte de um “amigo” a pancadas e pelos corpos que vira e que estavam na lista de desaparecidos, quando presa entre os dias 30Set e 16Out, sem ter a precaução de verificar, antecipadamente, se ocorrera mesmo qualquer falecimento e/ou desaparecimento naquele período. Foi mais adiante. Ao jornal O Globo, de 17/08/1985, declarou que “...parentes seus foram presos e torturados” e à revista Veja, de 21/08/1985, que “...seus pais também foram detidos e ameaçados de tortura”. Acusações para ninguém botar defeito.
Além desses fatos, inúmeros outros que a imprensa, em geral, nunca mostrou interesse em investigar, pesquisar, publicar e colocar à disposição do seu leitor, para restabelecer, se não a verdade, pelo menos o confronto de idéias, encontram-se relatados no livro “A Verdade Sufocada, a história que a esquerda não quer que o Brasil conheça”. Publicado em abril de 2006, com quase seiscentas páginas, nada do seu conteúdo foi, até hoje, desmentido, contestado, questionado ou mesmo criticado por aqueles que participaram da luta armada ou por outros adversários, o que torna confiável o seu conteúdo e destrói muitos mitos criados pela esquerda mais radical, inclusive o de que Bete Mendes fora torturada.
A segunda, a Ministra Dilma Roussef, Chefe da Casa Civil, ex-integrante das organizações terroristas autodenominadas Comando de Libertação Nacional (COLINA) e VAR-Palmares. Que denominações pomposas não?.
Muito se poderia falar e escrever sobre essa ex-militante quanto a sua efetiva participação na luta armada, embora ela tenha se envolvido com um ex-dirigente da VAR em São Paulo, que na época integrava o seu Comando Nacional. Isso a levava a conhecer, com alguma profundidade e muitos detalhes, a política da organização, o que lhe dava muitas vantagens comparativas sobre os militantes de base e algumas sobre os militantes de nível regional/estadual.
Mas Dilma é muito mais “esperta e inteligente” que a Rosa. Talvez com ela tenha aprendido muito em 1985, pois, diferentemente dela, não faz acusações pessoais diretas e objetivas. Prefere a subjetividade para destilar o seu veneno, já que a imprensa em geral aceita com passividade e cumplicidade o que se opor ao 31Mar64. Acredito que, se o fizer, apresentará “testemunhas que confirmarão com riqueza de detalhes e com precisão cirúrgica a veracidade de suas afirmações” e, só então, mostrará, após mais de trinta anos, as seqüelas físicas e psicológicas resultantes por mais de três anos de “tortura”.
Obs: Se Bete Mendes fosse uma militante inteligente e não se entusiasmasse com a repercussão de suas acusações, por certo o Cel Ustra não teria condições de responder de forma objetiva às acusações que recebeu. Desmentida categoricamente no livro “Rompendo o Silêncio” desse mesmo autor, publicado em 1987, a artista Bete caiu no ostracismo político, ideológico e artístico, pois, os que a estimularam nas acusações, não a apoiaram contestando ou criticando o teor do desmentido e, até hoje, todos mantêm um intrigante silêncio. Quanto à ministra, as acusações genéricas e sem um alvo definido pararam temporariamente. De qualquer forma, eu afirmo que a primeira encenou uma farsa, enquanto que a outra se associa aos “companheiros” que fraudam a história.
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