Por Thomas Sowell
Um dos muitos sinais de degeneração de nossos tempos está no fato de que muitas questões sérias, até mesmo de vida ou morte, são abordadas como se fossem uma lista de frases feitas para um jogo de esgrima verbal. Nada ilustra isso melhor do que a tola, e até mesmo infantil, controvérsia sobre “torturar” terroristas capturados.
As ações das pessoas, com freqüência, fazem mais sentido do que suas palavras. A maioria das pessoas que estão falando com ar superior sobre como não devemos descer ao nível de nossos inimigos, comportar-se-ia de maneira muito diferente se fosse defrontada com uma situação comparável, em vez de serem presenteadas com uma oportunidade de ficar em vantagem moral através da retórica.
Imagine que é a sua mãe ou o seu filho que estão amarrados em algum lugar desconhecido, com uma bomba-relógio ao lado, e você capturou um terrorista que sabe onde eles estão. Seja honesto: o que você faria a esse terrorista para que ele falasse, faria com que o afogamento simulado1 parecesse um piquenique.
Você não se importaria com o que o New York Times iria dizer nem com o que a “opinião mundial” na ONU iria dizer. Você salvaria a vida de seus entes queridos e diria àqueles outros o que eles poderiam fazer com suas opiniões.
Mas se são os Estados Unidos que agem dessa maneira, isso é chamado de “arrogância” – até mesmo por cidadãos americanos. De fato, até pelo presidente americano.
Há uma grande diferença entre ser maçante e ser sério. É assustador que o Presidente dos Estados Unidos não esteja sendo sério acerca de assuntos de vida ou morte, dizendo que há “outras maneiras” de se obter informações de terroristas.
Talvez esse seja um degrau acima da frase feita que dizia que a “tortura” não tinha conseguido extrair nenhuma informação importante dos terroristas. Apenas depois que ficou demonstrado que isso era uma mentira completa, foi que Barack Obama mudou sua retórica, usando a pouco convincente afirmativa de que “outras maneiras”, não especificadas, poderiam ter sido usadas.
Para um homem cuja vida se baseou mais no estilo do que na substância, mais na retórica do que na realidade, talvez dele nada melhor pudéssemos esperar. Mas o fato de que a mídia e o público tenham ficado tão hipnotizados pelo culto a Obama de modo a não conseguir ver adiante e pensar em sua própria sobrevivência, é verdadeiramente perturbador e assustador.
Quando revisitamos a História, é surpreendente ver as coisas tolas e infantis que as pessoas disseram e fizeram à véspera de uma catástrofe que as consumiria. Em 1938, com Hitler preparando-se para desencadear uma guerra na qual milhões de homens, mulheres e crianças seriam massacrados, a peça que fazia o maior sucesso nos palcos de Paris era uma sobre a reconciliação entre franceses e alemães; e, naquele ano, um pacifista francês dedicou seu livro a Adolf Hitler.
Quando os historiadores do futuro olharem para a nossa época, o que pensarão do nosso tempo? Que a nossa mídia era sensível demais para chamar terroristas assassinos e sádicos de algo pior que “militantes” ou “insurgentes”? Que nosso presidente ia ao exterior para denegrir o país que o elegeu, agindo como alcoviteiro de aliados inúteis e de inimigos declarados, e que literalmente curvou-se diante de um tirano estrangeiro que governa um país2 do qual veio a maioria dos terroristas do 11 de setembro?
É fácil produzir frases feitas sobre como Churchill não torturou prisioneiros alemães, mesmo quando Londres estava sendo bombardeada. Havia uma boa razão para isso: eles eram prisioneiros de guerra comuns, protegidos pela Convenção de Genebra, e que não sabiam de nada que pudesse impedir que Londres continuasse a ser bombardeada.
Qualquer que seja a esgrima verbal sobre o significado da palavra “tortura”, há uma diferença fundamental entre simplesmente infligir dor em pessoas inocentes pelo puro prazer de fazê-lo – que é o que nossos inimigos terroristas fazem – e obter dos terroristas informações que podem salvar vidas, por quaisquer meios que sejam necessários.
Há muito que a esquerda confunde paralelos físicos com paralelos morais. Mas, quando um criminoso atira num policial e este revida atirando, a equivalência física não é equivalência moral. E o que os agentes de inteligência americanos fizeram aos terroristas capturados não é nem sequer equivalência física.
Se chegamos ao ponto em que não podemos mais nos dar ao trabalho de pensar além da retórica ou de fazer distinções morais, então chegamos ao ponto onde nossa sobrevivência num mundo de proliferação nuclear crescentemente perigoso já não pode mais ser dada como certa.
Tradução: Henrique Paul Dmyterko
Publicado originalmente no site Midia@Mais
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