domingo, 6 de setembro de 2015

O BRASIL IND' É PENDENTE



Li, alhures, na juventude, a versão gaiata do "Grito da Independência": D. Pedro voltava de Santos, depois de um rala e rola com a Marquesa de Santos. Da última refeição, com frutos do mar, lhe restou uma baita indigestão, com várias paradas na subida da serra. Ali nas margens do Ipiranga, o mal estar o acossou mais uma vez e o papel higiênico havia acabado. Ele voltou do matinho, fulo da vida, desembainhou a espada e gritou: "Est' intendência é de morte!".

Existem outras versões, como mostra a ilustração. O certo é que a gororoba de Domitila ou mesmo as águas da baixada que não eram bem tratadas, resultaram no desarranjo intestinal que mal suportava o balanço dos burros na subida da serra. Burros sim! Mais resistentes que os cavalos imaginados por Pedro Américo para pintar aquela cena heroica. Os trajes também não eram principescos, nem uniformes militares garbosos. E a comitiva tinha quando muito uma meia dúzia de acompanhantes.


Os pares da corte que o acompanhavam já haviam recebido a mensagem de Portugal e em comum acordo, ao mando de José Bonifácio, desembainharam suas espadas e gritaram: "Independência ou Morte!". Alguém cochichou no ouvido de D. Pedro que Portugal ordenava que ele deixasse o Brasil. Era deixar o que ele mais amava. Era afastar-se para sempre da Marquesa. Diante disto, ele escolheu mesmo abraçar a independência, "cortando os laços que nos uniam a Portugal".

Os laços eram simbolizados por umas fitinhas, que todos ostentavam nos casacos, presas com aqueles "alfinetes de segurança" utilizados para sustentar as fraldas dos recém nascidos". O gesto seguinte foi então arrancar as fitinhas, atirá-las ao chão e guardar cuidadosamente os alfinetes. Os dias seguintes foram dedicados ao marketing da independência: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico" no Brasil e nos braços de Domitila.

Bom, o Brasil ficou semi independente. Continuou ligado a Portugal porque Pedro era o herdeiro do trono europeu. O fato é que de negociata em negociata a Portugal, a Inglaterra e outros europeus, sacaram da colônia tudo quanto puderam em ouro, diamantes, aquele pau que deu o nome ao Brasil e outros produtos apreciados na corte de além mar. D. Pedro deixaria o Brasil para ser Rei de Portugal anos mais tarde.

A dependência posterior veio com os tratados republicanos com as nações amigas. Mais tarde seria dependência da grana dos investidores e emprestadores de dinheiro, sem o qual diversos presidentes, partidos e políticos não poderiam enriquecer da noite para o dia. Os governos, partidos e seus políticos aprenderam o caminho de pedir emprestado, deixando a arrumação da casa para o futuro. 

Hoje continuamos dependentes dos investimentos... E todo ano pagamos quase a metade de tudo quanto produzimos, somente de juros. Não sei por quanto tempo ou se para sempre. Deste modo, mesmo que queiram tapar o sol com a peneira, o Brasil ind' é pendente.



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