Por Arlindo Montenegro
O barulho da moto anunciava a chegada do leiteiro que naquele dia também trazia um queijo fresquinho. Davi era o nome dele. Chegava dizendo bom dia e aceitava o café quentinho, contando as novidades da bezerrada que ia trazer para pastar no sitio do velho. Ia pagar um bom dinheirinho por cada cabeça e queria que o moço ajudasse com a cerca.
- O que vocês podiam fazer depois era acabar com este capim brachiária. Isto não devia ter ficado lá na Austrália. A gente tem o capim gordura que é mais bonito e nutritivo, bom para o leite...
- É mesmo, a gente nem vê mais aquele pasto tão cheiroso. Brachiária infestou serve muito é pra ninho de cobra.
- Tanta coisa boa pra pasto...
- Colonião é bom, o perigo é o fogo.
- Corta tudo, faz um buraco, forra com um plástico aí tem um silo para o inverno, sem perigo de fogo.
- Já ouvi isto na Casa da Lavoura. Pra mim custa caro: hora de máquina pra cavar o buraco, lona, mão de obra, picador... se as bananeiras soltassem cachos de dinheiro...
O leite ferveu e as tapiocas com coco ralado estavam prontas para o café daquela manhã que prenunciava em segredo o desastre que acabaria em riso, não obstante o prejuízo que o velho considerou de menor importância dizendo: Deus nos deu, Deus no dará. Tratava o Todo Poderoso como um amigo presente, com quem falava no coração e um dia saiu com aquela de que entre os dois contavam piadas. Foi quando abriu uma colméia com o moço e verificou que estava lotada de larvas de zangões. Disse assim: vamos aproveitar e guardar na geladeira. Todo dia vou comer algumas com mel e se você duvidar ainda vou gerar um filho antes de você casar.
- Ô velho! Ta assanhado! Quem foi que disse que ainda está na idade?
- Deus me disse.
- E de onde tirou esta idéia de falar com Deus?
- Falo sempre e Ele me conta muita piada... eu também, com o devido respeito.
- Mais essa... bebeu? Piada com Deus...
- Quando é que você procura falar com Ele? Pense aí...
- Só me lembro quando estou num aperto...
- Então é como chegar num estranho que não vive perto ou num amigo distante que você nem lembra que existe, não é?
- Pensando bem, é assim mesmo...
- Mas no meio de amigos, vizinhos, parentes, a piada corre solta como o riso. E quando você precisa ou precisam de você a ajuda vem em primeiro lugar, correto?
- É mesmo assim.
- Então o que impede você de fazer o mesmo com o melhor amigo da gente? O amigo que é justo, que não falha, que fortalece a pessoa em qualquer situação, que sempre está perto... o que impede, heim?
- É o medo?
- Medo? Que medo?
- Do olho que vigia a gente o tempo inteiro e que sabe das fraquezas, das escapulidas, dos pensamentos...
- E você quer ser forte... Pra parecer forte e reto tem de esconder as fraquezas? Esconder até de Deus... boa piada!
O velho riu gostosamente e o moço o acompanhou. Saíram juntos pra construir a cerca do galinheiro, o velho pensando alto que as pessoas eram cercadas como as galinhas, com movimentos e pasto limitado. Como galinha não pensava os pastos e as cercas dos humanos eram mentais, culturais. As cercas eram as crenças, as ideologias e ambição que mobilizava os mais fortes para abusar dos menos favorecidos. E concluiu:
- É por tudo isto que insisto para que você leia, estude, pense, fale e aja sempre na presença da inteligência que está presente no universo insondável, que determina os ciclos naturais da vida eterna.
A cerca ficou pronta. As galinhas foram soltas e correram alegres pelo território que ganhavam para desenvolver a família. No comando, o galo iria cantar no poleiro anunciando cada novo dia.
(Continua na próxima semana)
- O que vocês podiam fazer depois era acabar com este capim brachiária. Isto não devia ter ficado lá na Austrália. A gente tem o capim gordura que é mais bonito e nutritivo, bom para o leite...
- É mesmo, a gente nem vê mais aquele pasto tão cheiroso. Brachiária infestou serve muito é pra ninho de cobra.
- Tanta coisa boa pra pasto...
- Colonião é bom, o perigo é o fogo.
- Corta tudo, faz um buraco, forra com um plástico aí tem um silo para o inverno, sem perigo de fogo.
- Já ouvi isto na Casa da Lavoura. Pra mim custa caro: hora de máquina pra cavar o buraco, lona, mão de obra, picador... se as bananeiras soltassem cachos de dinheiro...
O leite ferveu e as tapiocas com coco ralado estavam prontas para o café daquela manhã que prenunciava em segredo o desastre que acabaria em riso, não obstante o prejuízo que o velho considerou de menor importância dizendo: Deus nos deu, Deus no dará. Tratava o Todo Poderoso como um amigo presente, com quem falava no coração e um dia saiu com aquela de que entre os dois contavam piadas. Foi quando abriu uma colméia com o moço e verificou que estava lotada de larvas de zangões. Disse assim: vamos aproveitar e guardar na geladeira. Todo dia vou comer algumas com mel e se você duvidar ainda vou gerar um filho antes de você casar.
- Ô velho! Ta assanhado! Quem foi que disse que ainda está na idade?
- Deus me disse.
- E de onde tirou esta idéia de falar com Deus?
- Falo sempre e Ele me conta muita piada... eu também, com o devido respeito.
- Mais essa... bebeu? Piada com Deus...
- Quando é que você procura falar com Ele? Pense aí...
- Só me lembro quando estou num aperto...
- Então é como chegar num estranho que não vive perto ou num amigo distante que você nem lembra que existe, não é?
- Pensando bem, é assim mesmo...
- Mas no meio de amigos, vizinhos, parentes, a piada corre solta como o riso. E quando você precisa ou precisam de você a ajuda vem em primeiro lugar, correto?
- É mesmo assim.
- Então o que impede você de fazer o mesmo com o melhor amigo da gente? O amigo que é justo, que não falha, que fortalece a pessoa em qualquer situação, que sempre está perto... o que impede, heim?
- É o medo?
- Medo? Que medo?
- Do olho que vigia a gente o tempo inteiro e que sabe das fraquezas, das escapulidas, dos pensamentos...
- E você quer ser forte... Pra parecer forte e reto tem de esconder as fraquezas? Esconder até de Deus... boa piada!
O velho riu gostosamente e o moço o acompanhou. Saíram juntos pra construir a cerca do galinheiro, o velho pensando alto que as pessoas eram cercadas como as galinhas, com movimentos e pasto limitado. Como galinha não pensava os pastos e as cercas dos humanos eram mentais, culturais. As cercas eram as crenças, as ideologias e ambição que mobilizava os mais fortes para abusar dos menos favorecidos. E concluiu:
- É por tudo isto que insisto para que você leia, estude, pense, fale e aja sempre na presença da inteligência que está presente no universo insondável, que determina os ciclos naturais da vida eterna.
A cerca ficou pronta. As galinhas foram soltas e correram alegres pelo território que ganhavam para desenvolver a família. No comando, o galo iria cantar no poleiro anunciando cada novo dia.
(Continua na próxima semana)
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