Por Percival Puggina
Entristece-me o fato de a CNBB jamais esclarecer que ela não é a Igreja Católica. A CNBB é um ente burocrático, um órgão de apoio, de auxílio aos bispos. No entanto, o silêncio sobre sua verdadeira natureza faz com que, entendida como “a” Igreja Católica (algo infinitamente superior ao que a CNBB de fato é), ela se misture e nivele a outras organizações da sociedade (OAB, ABI, CUT, MST, etc. e tal). É uma pena.
A minha consternação se agrava, contudo, pela reiteração de certos equívocos que ficam bem nítidos na atual Campanha da Fraternidade. Um deles está na confusão entre os campos da Economia e da Política. Os documentos da CNBB são useiros e vezeiros em misturar essas duas esferas da atividade humana, atribuindo à primeira aquilo que é próprio da segunda. Como consequência, pretendem conferir aos agentes econômicos obrigações inerentes às instituições políticas.
Trata-se de uma desatenção ao próprio pensamento católico, que reconhece a autonomia das duas esferas. De um sistema econômico se espera que produza, ao máximo de suas possibilidades, riqueza, desenvolvimento, postos de trabalho, tributos e renda, ou seja, condições materiais para a melhoria dos padrões de vida da sociedade.
É o que pede a Campanha da Fraternidade de 2010? Não. Ela, enquanto aponta idolatrias e excessos que todos condenam, quer que o sistema nacional, priorizando a partilha e a solidariedade, rejeite as exigências do mercado, do consumo e do lucro. E gere empregos e tributos com penitência e oração?
Toda consciência bem formada se revolta com as tragédias da pobreza material, feitas de analfabetismo, baixo nível educacional e cultural, más condições habitacionais e sanitárias, abandono dos aposentados. Feitas também por corrupção, esbanjamentos, mordomias, absurdos desníveis na remuneração do serviço público e maus governos.
Não é com a superação desses embaraços que venceremos a miséria e os desníveis sociais? Pois é tudo campo da Política! Miséria e desníveis sociais são temas para os poderes públicos, que se apropriam de 40% do PIB nacional! As justas preocupações com partilha e solidariedade deveriam focar, principalmente, essa brutal ruptura com o Princípio da Subsidiariedade.
É grave erro da Campanha não dizer que os problemas do Brasil são políticos do que econômicos. Muito mais institucionais do que empresariais. Bons governos, com boas políticas, enfrentam essas dificuldades valendo-se da competente operação do setor privado.
Outro erro, ainda, está na influência marxista que se derrama sobre boa parte dos documentos da CNBB. Neles, o pobre, o pobre do Evangelho, sob influxo da mais do que reprovada Teologia da Libertação (TL), vira excluído. E fica subentendido que o excluído está excluído porque o incluído não o quer dentro.
Assim, o apelo evangélico à caridade se converte em luta de classe. E saiba leitor, que Bento XVI, ainda agora, no dia 5 de dezembro, olho no olho, advertiu os bispos brasileiros do Sul III e IV contra “os princípios enganadores da TL” e para “o perigo que comporta a assunção a crítica, feita por alguns teólogos, de teses e metodologias provenientes do marxismo, cujas sequelas mais ou menos visíveis, feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa e anarquia fazem-se sentir ainda, criando, nas vossas comunidades diocesanas, grande sofrimento e grave perda de forças vivas”. Será preciso dizer mais?
Texto de João Paulo II
Texto da alocução a Bispos brasileiros dos Regionais Nordeste 1 e 4 da CNBB em visita ad limina em 5-9-1995
“O brasileiro gosta dos sinais exteriores da fé! Ele quer ver as Igrejas com suas características religiosas, com as expressões autênticas da arte sacra que despertam a levam à oração, ao recolhimento e à contemplação do mistério de Deus.
“Ele quer ouvir com alegria bater os sinos de vossas igrejas convidando-o para as celebrações litúrgicas ou convidando-o para as orações do dia ou da tarde em louvor da Virgem Maria! Um sino que toca – e tantos emudeceram – leva a muitos ouvidos um sinal de vitalidade eclesial.
“ Ele quer sentir nas músicas de vossas Igrejas o apelo ao louvor de Deus, à ação de graças, à prece humilde e confiante e se sente desconfortável quando esses cantos em sua letra envolvem uma mensagem política ou puramente terrena, e em sua expressão musical não apresentam a característica de música religiosa,mas são marcadamente profanos no ritmo,na linha melódica e nos instrumentos musicais de acompanhamento.
“É certo que há tanta gente que não possui o suficiente para acalmar a própria fome, mas ordinariamente, o povo tem mais fome de Deus que de pão material, pois entende que`não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus´ (Mt 4,4). Ver a Igreja como Igreja, e não simples promotora da reforma social.
“Vosso povo(...) que ver os Padres como verdadeiros Ministros de Deus, inclusive na sua veste e no modo exterior de proceder. Ele quer ver o homem de Deus nos Ministros de sua Igreja, uma presença que lhes inspire amor, respeito,confiança. O povo tem direito a isso e pode exigi-lo de seus pastores”.
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