Por Arlindo Montenegro
Um dia lá no passado, percebí que os adultos questionavam, para determinar a vocação dos adolescentes. Vocação era a inclinação natural que as crianças revelavam, as melhores aptidões para uma ou outra atividade, que poderia vir a ser profissão exercida com prazer. Muitas famílias ditavam a profissão. Os filhos obedeciam. Conhecí um que ordenou-se sacerdote por imposição familiar e depois tornou-se engenheiro bem sucedido. Nunca atuou no ministério da igreja.
A vocação pavimentava o aperfeiçoamento ético e moral. Se não vocacionados, os mais competentes e disciplinados se destacavam nos grupos de trabalho, encontrando novas maneiras de cumprir as tarefas com menor desgaste físico ou emocional. No mundo capitalista, as escolhas sempre foram livres. No mundo comunista, o estado inaugurou a seleção das pessoas, determinando o conhecimento específico para grupos específicos na hierarquia imposta à sociedade.
Agora o estado cada vez maior, domina a educação e orienta os grupos, ficando com as maiores vantagens os bem nascidos. A vocação movia para o estudo e desenvolvimento prazeroso. Nesta nova ordem, cada um busca o progresso na área que pague melhor pelas habilidades e conhecimentos individuais e capacidade de adaptação à ética empresarial, para garantir a competitividade e produtividade.
O discurso do estado, amplia as diferenças sociais e reduz a emoção espiritual às rações de jogos passageiros. Circo permanente. Pouco se discutem as razões profundas, o sentido da vida, os caminhos para reduzir as diferenças extremas entre a pobreza e a riqueza material e espiritual. Já não se discutem os caminhos para que as pessoas saibam como valorizar seu trabalho, sua contribuição para o bem estar da sociedade.
O estado dita as regras, distribui esmolas e trata de concentrar a riqueza com voracidade cada vez maior. Promete um futuro que todos começamos a entender como propaganda vazia, conversa prá boi dormir. Estamos vivendo no ambiente do deus Estado, senhor da religião sociedade de consumo. A individualidade é o crime. A virtude está no hedonismo e na capacidade de obter créditos para o consumo, o ópio do povo amedrontado diante do futuro duvidoso.
Vivemos um engodo de democracia sem conhecer as liberdades e a responsabilidade individual, a consciência cívica presente nos ambientes democraticamente mais avançados. A mídia propaga que o fato de participar de eleições define o estado democrático. Grande mentira. Os cidadãos são induzidos a acreditar que "escolhem" seu destino político. Pura ilusão! O estado coletivista propaga esta ilusão para impedir que os eleitores sejam livres para interferir nas questões que os poderosos consideram importantes... para manter-se no poder.
Partidos coletivistas (socializantes, comunistas) e os que se dizem democratas, divulgam seus programas que parecem diferentes no período eleitoral. Envolvem religiosos, escolas, empreiteiras, bancos, indústrias, artistas, clubes e a mídia os secunda, mantendo a ilusão de que os problemas vão ser resolvidos, que o novo governante vai criar empregos... Nenhum governante cria empregos, nenhum estado é uma empresa. Nenhum governante é um empresário. Nenhum funcionário burocrata do estado produz algum bem.
Num texto publicado pelo Recanto das Letras, em 13/02/1010, descreve-se a entrevista de Gustav Gilbert, um oficial da inteligência americana fluente em alemão, quando Goering prisioneiro descreveu como pensa o estado coletivista:
..."eu disse que, não achava que o povo comum estivesse muito agradecido aos líderes que trazem guerra e destruição."
"— É claro que o povo não quer a guerra.", Goering resmungou. "— Por que iria algum pobre rapaz que vive em uma fazenda querer arriscar sua vida em uma guerra quando o melhor que pode conseguir é voltar inteiro para sua casa? (...) Mas, afinal, são os líderes do país que determinam a política, e é sempre uma simples questão de arrastar o povo, seja em uma democracia, em uma ditadura fascista, em um sistema parlamentarista, ou em uma ditadura comunista."
"— Em uma democracia o povo tem alguma voz na questão por meio dos representantes eleitos, e nos Estados Unidos, somente o Congresso pode declarar a guerra."
"— Ah, isto é bom, mas tendo voz ou não, o povo sempre pode ser levado a fazer a vontade dos líderes. É muito fácil. Tudo o que você tem a fazer é dizer que o país está sendo atacado e denunciar os pacifistas por falta de patriotismo e por exporem o país ao perigo. Funciona da mesma forma em qualquer país."
Entre nós, a guerra é uma variação daquela tradicional.. Armam-se os bandidos. Desarmam-se os cidadãos. Estende-se o medo à guerrilha dos traficantes e outros marginais. Assim, os coletivistas do governo provocam a população, prometem soluções e a nulam a oposição. Tudo quanto significava um estado democrático de direito, foi virado em direito do estado, em consonância com a ideologia internacionalista dos governantes, em contraposição à cultura histórica.
Nos últimos oito anos, o estado de portaria em portaria, dobrou o número de servidores burocráticos. E diversas portarias violam os princípios da Constituição, como dos "direitos humanos" ou aquela outra do meio ambiente que inclui as Centrais Sindicais no processo administrativo de concessão de licenças ambientais, regra que exigiria uma lei federal. É esta gente que quer um estado cada vez maior, com militantes ativistas mais presentes, mais poderosos, mais burocráticos, criando dificuldades à livre empresa.
Vocações, profissões, mentalidades, tudo tocado pela vontade super poderosa do estado. A iniciativa e as escolhas individuais reduzidas a zero. Sociedade como religião. Estado como igreja. Governantes como pastores ou lobos travestidos de pacíficas ovelhas, disputando os nacos mais suculentos da atividade produtiva dos outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário