quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A VIDA EM COMPARTIMENTOS

Por Arlindo Montenegro

Vivemos em nosso mundinho compartimentado. Espaços celulares onde cada grupo especializado elabora suas tarefas, seja de interesse científico, religioso, profissional ou político, ignorando tudo quanto ocorre nos outros espaços da vida em compartimentos. A ignorância atinge as alturas sempre que uma pessoa, grupo ou instituição se crê dona da verdade absoluta e age como "lobo em pele de cordeiro".

Assim têm agido politicos e instituições políticas, de modo acentuado, negando o acesso ao conhecimento e espalhando mentiras, que acorrentam as mentes em espaços reduzidos e especializados, sem contato com a vida plena que somente a liberdade espiritual proporciona. O fato é que o espírito livre dos que buscam aproximar-se das verdades de cada dia, interfere na ordem estabelecida para perpetuar o poder de uns poucos sobre todos.

Até no ambiente de estudos científicos agentes do governo e instituições conseguem controlar o acesso do indivíduo ou das equipes de campo, aos traços de informação que poderia clarear conceitos e direcionar os comportamentos, afastando as mentiras que direcionam para espaços perigosos e contrários à vida em sua plenitude.

Deste modo, as técnicas e conteúdos as mesmas disciplinas organizadas para disseminar o conhecimento, são apreendidas pela metade, isoladas do universo, dissociadas do contato vital com a variedade circundante, como se a interdependência entre o espiritual e o material fossem dispensáveis para o equilíbrio das pessoas. Assim instituem-se as células fechadas, cada um ou cada grupo em harmonia com as meias verdades do dia.

Os indivíduos informados e educados pela metade, constituem famílias e repassam as meias verdades aos filhos, que aprendem da escola as verdades incompletas e desfiguradas que o estado proporciona através dos currículos elaborados por portadores de meias verdades que viciam as mentes, colocam antolhos que permitem "ver" somente numa direção, nem sempre aquela que proporciona e mobiliza para a curiosidade sobre a amplitude universal.

O propósito é mudar revolucionariamente o rumo dos acontecimentos, sempre que os personagens de uma ou outra célula mostram as evidências da mentira de um ou de um grupo portador do mando. A revolução parece mudar tudo e abraçar a informação ética no primeiro momento. Conta com a credibilidade e aplauso dos néscios, o tal "voto de confiança" no primeiro momento. E logo revela a prática de comportamentos dogmáticos, impondo meias verdades colhidas em estreitos compartimentos.

Exclui-se a transparência, apagam-se as luzes e cai a noite escura. Cada lampejo de verdade é reprimido. As evidências são apagadas, enterradas, escondidas e o cortejo é direcionado na direção das mesmas mentiras milenares, da mesma ignorância, da consequente compartimentação entre os que acessam a informação, os que são pagos como prostitutas para vender prazeres ligeiros e inconsequentes e os encurralados.

As diversas formas de estado conhecidos na história, em todas as latitudes, tendem a utilizar um discurso que espelha as melhores intenções, quando na prática, conspiram contra o fluxo natural da vida. As constituições são desprezadas e parecem contratos escritos para balizar a ação contrária do estado agressivo e interventor, que se preserva um direito vindo não sei de onde, para dar a última palavra, condenando e punindo quem vá de encontro aos propósitos afluentes de crenças imutáveis.

Aprofunda-se o preconceito e a idéia de que apenas uns poucos sabem tudo e são portadores de todas as soluções. Na verdade, no espaço, os indivíduos buscam as soluções, encontram as soluções que o estado e suas instituições "engavetam", negam ao conhecimento, sua moeda de negociação e troca com os que têm conservado imutáveis as estruturas sociais: governo manda, nação obedece sem piscar. E o chicote do feitor cai impiedoso no lombo dos inconformados.

Este ofício de caçador de verdades, esta busca do significado das coisas que induzem os comportamentos mais aparvalhados, desencontrados e bestiais, é um ofício vicioso e beira a auto-flagelação em alguns instantes. O mérito é saber que nos vamos desviando da caca da cachorrada dos donos da verdade e portadores de soluções futuras, que deixam para depois "por falata de verba", por falta de vontade, por falta de vergonha, por safadeza pura e simples.

Nem sempre deixamos de pisar na caca, mas pelo menos resta a habilidade de identificar a origem da raça de bicho que féde nos pés descalços e proclamar para os demais: cuidado! Siga outro caminho prá não ficar carimbado com a merda da cachorrada! Alguns ouvem, outros se fazem de moucos e muitos estão doutrinados para não olhar para o terreno onde pisam.

E assim vamos, cada um em sua célula ou cela de isolamento, mal informados e condenados a viver a vida a meias em nações onde o estado tem olhos para vigiar cada um, onde a mídia que nos ensinam ser "livre" da interferência do governo e das empresas, mente para a opinião pública e nega a própria mentira. "Viver é muito perigoso", mas é divertido. Ainda restam emoções indizíveis, visões magníficas, encontros emocionantes e a percepção da presença de Deus.

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