Por Arlindo Montenegro
Vez em quando, a solidão abraça a gente, isolando e revolvendo folhas de momentos de vida compartilhada, ensinando criança a andar, contando lorotas e esperando que os cheiros vindos da cozinha se revelem em cores e sabores, aprovados com louvor à maestria de quem os elabora pensando em nossa satisfação. A mente está povoada das cenas e lugares que reuniam pessoas no bem estar do plantio e colheita dos frutos maduros, no aprendizado, perdão, contemplação do ocaso e alvorecer. Agradecimento às pessoas e a Deus.
Agradecimento é um hábito banido. Deus está sendo ensinado como ideia controvertida, com a face dos homens que dizem ser seus representantes na terra. Na “origem de todos os cultos”, em todos os códigos simbólicos das religiões, encontram-se os mesmos traços da memória de uma inteligência universal que por momentos revelou-se aos habitantes deste fragmento do universo, terra, cujos ocupantes passaram a venerar. Deus ou os deuses foram banidos dos corações e são expulsos das mentes.
Deuses procriavam com humanos e uma estirpe de homens-deuses atuava na direção das hordas apaixonadas, homens que encarnavam as normas e tinham poder de vida e morte sobre os grupos humanos. Homens e salvadores divinos estão presentes na memória de todas as histórias, em todas as épocas, em todas as organizações religiosas que fundamentaram a organização de tribos, cidades e depois estados e civilizações. Todos e cada um dos deuses revestidos da toga de juízes supremos e finais, presentes para conter os impulsos e paixões, aproximando os homens de ambientes “civilizados”.
Hoje os homens que tomaram a direção dos estados gigantes, pretendem ser deuses e procedem como tal, acima das leis humanas e acima das leis da natureza, prometem tudo quanto jamais cumprem. E parece que o exemplo dos poderosos está contaminando todos os grupos sociais: promessas como para ganhar tempo diante do desconhecido que no passado mobilizava para grandes e heróicas realizações. Agora o caminho é inverso.
Vez em quando vem à lembrança promessas amigas, compromissos assumidos e esquecidos entre centenas de ocupações prioritárias. Os velhos que de algum modo são dependentes crônicos da ação dos mais jovens, guardam “hematomas-porrada” das promessas esquecidas. Talvez pela pressa e pouco tempo que lhes resta, desejando uma realização afirmativa, com o sabor de uma taça de vinho e o sentimento de gratidão brilhando no olhar obscurecido.
A gente vai aprendendo a arquivar os impulsos de assumir compromissos-tarefa para os quais falta a habilitação, a competencia e os enlaces necessários para realizar. Saindo do casulo, ligamos o computador, quase uma obrigação, para ler mensagens de pessoas que não conhecemos pessoalmente, mas com as quais concordamos sobre princípios e valores, buscas e coerências libertárias. Vamos repassando aos familiares distantes e aos amigos mais significativos. E estes raramente respondem.
As pessoas andam muito ocupadas, os roteiros dos pensamentos dos velhos e sua manias vão perdendo significado. Talvez até pela ansiedade da solidão, pela facilidade de vislumbrar as consequências dos atos insanos, por serem refratários aos usos e costumes “progressitas”, pelas tímidas cobranças do “como vai você”, os velhos-passado, são descartáveis.
Pouco ou nada têm a oferecer aos jovens-futuro. Vivem à margem das atividades estressantes e profícuas da vida dos que fazem acontecer e "nasceram sabendo" como fazer, melhor que os velhos que nada têm que fazer.
Pouco ou nada têm a oferecer aos jovens-futuro. Vivem à margem das atividades estressantes e profícuas da vida dos que fazem acontecer e "nasceram sabendo" como fazer, melhor que os velhos que nada têm que fazer.
Vez por outra dá pra pensar que os amigos procedem como políticos: prometem, prometem e prometem tanto, que com tanto que fazer vão deixando para depois, um depois que dificilmente vai chegar. O depois dos amigos, muitas vezes carrega outras dependências. O depois dos políticos sempre obedece prioritariamente aos compromissos da economia globalizada e aos financiadores de suas campanhas. O dentro de quatro ou cinco anos dos políticos se desdobra num tempo imensurável.
Esta é uma sociedade de solitários, bem diferente do que ainda se conserva nos pequenos povoados onde todos se conhecem e de alguma maneira se sentem responsáveis uns pelos outros. Uma cultura em extinção acelerada. A gente nem vê, nem liga para o vizinho. A responsabilidade de uns para com os outros começa a falhar mesmo no âmbito familiar, à medida que o estado direciona a educação dos filhos contra a tradição cultural e crenças religiosas da mesma família, introduzindo o hedonismo e “direitos” contrarios à evolução natural, contrários à liberdade individual, formando zumbis a serviço da ideologia.
Neste panorama as notícias confirmam a tendência impositiva dos estados que engordam e se agigantam exigindo mais e mais trabalho das “bestas” humanas, adestradas para carregar cada dia pesos maiores por caminhos desconhecidos, em que os prazeres simples são substituído por drogas e competitividade alucinada de uns contra os outros, cada inconformado querendo ocupar o lugar do outro.
Poucos homens revelam a corajem de um Alejandro Peña Esclusa que por exigir o cumprimento das leis, por denunciar em foros internacionais a implantação da nova ordem mundial socialista em seu país, por exibir os crimes do ditador-melhor-democrata que aterroriza a Venezuela e incomoda os vizinhos, foi arrebatado de sua casa na calada da noite e está preso numa cela minúscula, onde o sol só é permitido a cada 15 dias. Detalhes no blog http://notalatina.blogspot.com/.
Aqui seguimos num caminho paralelo para o mesmo terreno obscuro da violência do estado contra o indivíduo. Do estado acima das leis. De um partido controlando toda a máquina do estado. De uma pessoa investida com todo o poder determinando quem pode fazer, quem pode pensar, quem pode falar o quê. É o progresso revolucionário: as hordas invadem nossas casas, nossas cidades, nosso território e vão designando os currais.
O estado deve, a sociedade paga. Promessas não pagam dívidas ancestrais. A gente velha só pode esperar com certeza o cumprimento de uma promessa: a eternidade no seio do Universo, o descanso na rede paradisíaca. Nem precisa aquele harém de virgens... ou um batalhão de anjos virís para as mulheres. Basta uma musiquinha... (que não seja rap! Funk!...)
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